terça-feira, maio 19, 2020

Nos tempos que já se foram


Carlos Brickmann  
                                                                   
Pois houve uma época, caros leitores, em que Corona era marca de ducha, “um banho de alegria num mundo de água quente”. O nome completo, não se sabe por que, era SS Corona. Bons tempos: nem quem botou o SS nem os clientes associaram a SS à temida organização nazista. Eram mesmo os bons tempos: nazismo era coisa velha, superada, e nenhum ministro iria citá-lo.
Bandido era bandido, e se juntavam em bando para cometer seus crimes. Como diria o bandido Lúcio Flávio, Polícia era Polícia, bandido era bandido. Ele era assaltante de bancos e não se misturava com policiais. Aquele híbrido conhecido como “miliciano”, com origem na Polícia e ação como bandido, era inimaginável. E, se milicianos houvesse, gente decente jamais se misturaria com eles. No máximo saberia que eles existiam. Amigo, confidente, protetor ou protegido? Não: quem se colocasse ao lado deles bandido seria. E a desculpa “apenas meu conhecido” seria só uma desculpa.
Remédios esquisitos, caros e inúteis, estes sempre houve. Óleo de cobra, por exemplo, ou óleo de cobra elétrica. Servia exclusivamente como fonte de renda do vendedor (que também parecia ser o produtor, misturando óleo de amendoim com algum corante). Fazia mal? Acho que não. Nem bem. Era chamado de “panaceia” – remédio para todos os males. Em faroestes americanos o vendedor de panaceia aparece muito. Aqui o bandido aparece mais. Aliás, caro leitor, que tal um happy-hour com cloroquina on the rocks?
A Porcina e o Porcino
Que vexame, Regina Duarte! Após sua ótima atuação em O Bem Amado, como Viúva Porcina, a que foi sem nunca ter sido, deixou que um novato com a cara impassível de um Buster Keaton sem graça a superasse! Teich foi sem nunca ter sido, assumiu sem ter assumido, um perfeito Viúvo Porcino! Médico bem conceituado, foi tocado do cargo por um capitão que só conhece remédios por comprá-los nas farmácias (e errados, ou não teria ficado desse jeito). Regina, não: desandou a falar igualzinho ao capitão e seus filhos. Após esse episódio, está pronta para a política: pode até ser porta-voz de Dilma.
Ele era o bom
Teich desafiou a sabedoria popular: “Se alguém engana alguém uma vez, a culpa é dele. Se engana outra vez, a culpa é do outro”. Teich viu Mandetta ser vítima de seu sucesso como administrador – e, exatamente por este sucesso, foi chutado. Achou que com ele seria diferente. Mas não parou para pensar no motivo pelo qual seria diferente. Por acaso o Capitão Cloroquina aceitaria outro medicamento que não fosse a cloroquina? E concordaria com o isolamento social, quando tudo que não quer é ficar isolado, e saracoteia pelas ruas no meio de gente aglomerada, trocando suores e perdigotos? Por acaso o Capitão Morte passaria a se importar com os mortos da pandemia, se nem com a segurança de sua filha, uma criança, se importou, levando-a para o meio daqueles grupos de fanáticos que gritam Bolsonaro tem razão?
Previsão
Dizem que no Brasil nem o passado é previsível. Mas Bolsonaro e seus milicianos digitais são previsíveis: as milícias (e seus robôs) vão explicar que Teich é comunista desde antes de Lênin e se infiltrou no governo Bolsonaro apenas para atrapalhar seu até então impecável funcionamento. Bem feito: por que Teich aceitou o desafio impossível de ser ministro de Bolsonaro?
Medicina general
Muita gente preocupada com a possibilidade de efetivação do general Pazuello no Ministério da Saúde. Não deveriam se preocupar. O general, dizem, é bom organizador. Não deve entender nada de Medicina, o que não seria problema se pudesse ouvir o pessoal do Ministério; mas se fizer isso será o próximo a rodar. E qual a diferença? Mandetta e Teich têm boa formação médica, tanto assim que rejeitaram os palpites do leigo cujo sonho seria vestir farda. E daí? Pazuello deve ter uma formação apurada em assuntos militares, mas nada a ver com Medicina, Saúde Pública, contenção de epidemias. Não vai fazer a menor diferença: ou manda o país se abrir à epidemia (isso se os governadores e o Supremo deixarem) e ordena servir cloroquina na merenda escolar, ou cai como caíram seus antecessores.
Bom exemplo
O general George Marshall foi combatente até 1945. Em 1947, o presidente Truman o nomeou secretário de Estado. Marshall criou então o Plano Marshall, que permitiu a reconstrução de 16 países da Europa Ocidental que, após a guerra, estavam em ruínas. Foi tão bom que, no Brasil, quando os generais propuseram a Bolsonaro mais uma versão do PAC de Dilma, deram-lhe o nome de Plano Marshall. Só há um detalhe: Marshall foi um guerreiro que deu certo como secretário de Estado. Foram pouquíssimos.
Prejuízo monstro
O prejuízo da Petrobras no primeiro trimestre de 2020 foi de R$ 48,5 bilhões. Maior que o lucro da Petrobras nos quatro trimestres de 2019.
Twitter@CarlosBrickmann

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