Sempre os outros é que são ladrões. Já a turma de quem fala dos outros é sempre honestíssima, aguardará tranquilamente que a Justiça comprove que as acusações contra ela são apenas armações. E, enquanto aguarda com plena confiança e serenidade que a Justiça se manifeste, toma providências para adiar os julgamentos e descobrir falhas processuais que anulem os processos.Boa parte dos políticos mente muito. Mas o pior aparece, quase sempre, quando falam a verdade. O general Augusto Heleno disse que precisa tomar calmante na veia para conversar com o presidente Bolsonaro e evitar que ele reaja como gostaria às decisões do Supremo. Já o presidente, em conversa com empresários da Fiesp, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, disse que foi informado de que o Iphan, após constatar que o local era um sítio arqueológico, tinha paralisado a construção de mais uma loja Havan, de um amigo e seguidor, Luciano Hang – aquele careca que, segundo o escritor Olavo de Carvalho, anda vestido de Zé Carioca. Como não sabia o que era o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), perguntou a um ministro do que se tratava. Completou: “Tinham mandado paralisar a obra porque acharam um azulejo. Ripei todo mundo do Iphan”. Onde já se viu desagradar um empresário amigo da casa só para fazer o que é certo?Os empresários o aplaudiram. Este colunista tem uma dúvida: em outros tempos, não se diria que o general e o presidente fizeram uma confissão?As duas verdadesFernando Bezerra, líder do Governo no Senado, estava tão feliz por ter obtido o apoio de Bolsonaro à sua candidatura ao Tribunal de Contas da União que até acreditou nele. Tirou o terceiro lugar, muito abaixo de Kátia Abreu e do vencedor, Antonio Anastasia, do PSD de Gilberto Kassab. E, ao descobrir que tinha sido traído pelo chefe, deixou a liderança do Governo. Bolsonaro se irritou: disse que Bezerra “já ia tarde” e que, por causa dos problemas do senador em Pernambuco, teve de intervir na Polícia Federal do Estado.Pois é: a declaração de Bolsonaro também tem cara de confissão.Cadê o nosso?Governistas, oposicionistas, lavajatistas, evangélicos, esquerdistas, todos unidos e coesos: juntaram-se para multiplicar as verbas públicas destinadas à campanha eleitoral. Nas últimas (e já milionárias) eleições, as excelências tinham devorado R$ 1,8 bilhão. Agora, poderão gastar até R$ 5,7 bilhões. A coisa era tão escandalosa que o presidente Bolsonaro havia vetado a quantia monumental. Mas o veto foi derrubado na sexta, dia em que o Congresso nem costuma funcionar – mas dessa vez era para legislar em causa própria. A quantia exata não deve chegar aos R$ 5,7 bilhões, mas ficar perto de uns quatro bilhões, quatro bilhões e meio – assim, todos poderão dizer que não foram com tanta sede ao pote. Mas, gastando desse jeito, com a economia do país sem crescimento real, acaba sendo necessário furar o teto de gastos para conseguir R$ 400,00 de auxílio para famílias que estão à beira da fome.E o veto?Bolsonaro tinha vetado o absurdo. Mas não deve estar triste com a queda do veto: quem articulou a votação foram três partidos de sua base, aquele ao qual pertence (o PL, de Valdemar Costa Neto), o PP, maior dos partidos que o apoiam, e o Republicanos, ligado a movimentos evangélicos, em especial a Igreja Universal do Reino de Deus. Marcelo Crivella, que Bolsonaro tentou sem êxito nomear embaixador na África do Sul, pertence ao Republicanos. O presidente não fez qualquer articulação para que o seu veto fosse mantido.O predestinadoO ministro André Mendonça, que acaba de tomar posse como ministro do Supremo Tribunal Federal, disse numa das igrejas do pastor Silas Malafaia que Deus o escolheu para o STF desde antes da criação do mundo.Por falar neleA propósito do pastor Silas Malafaia, será que ele já seguiu o conselho oferecido publicamente pelo jornalista Ricardo Boechat, na BandNews FM?Lula de lavada?As últimas pesquisas mostram Lula ganhando no primeiro turno, com mais votos do que todos os adversários somados. Mostram que Moro incomoda Bolsonaro, tirando-lhe votos, porém não o suficiente para afastá-lo de um eventual segundo turno. Mas é cedo: como diz Gilberto Kassab, fino analista político, a preocupação com as eleições começa depois do Carnaval. Lula leva uma vantagem: tudo o que se podia dizer dele já foi dito. E, embora o fato real seja que ele não foi inocentado das acusações, tanto que algum dia os processos deverão recomeçar, a imagem que fica para a população é de que Lula é inocente, vítima de perseguição política, tanto que o Supremo mandou anular os processos.______________________________________________________________________________________________________ |
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