Carlos Brickmann
Pois houve uma época, caros leitores, em que Corona era marca de ducha, “um banho de alegria num mundo de água quente”. O nome completo, não se sabe por que, era SS Corona. Bons tempos: nem quem botou o SS nem os clientes associaram a SS à temida organização nazista. Eram mesmo os bons tempos: nazismo era coisa velha, superada, e nenhum ministro iria citá-lo.
Bandido era bandido, e se juntavam em bando para cometer seus crimes. Como diria o bandido Lúcio Flávio, Polícia era Polícia, bandido era bandido. Ele era assaltante de bancos e não se misturava com policiais. Aquele híbrido conhecido como “miliciano”, com origem na Polícia e ação como bandido, era inimaginável. E, se milicianos houvesse, gente decente jamais se misturaria com eles. No máximo saberia que eles existiam. Amigo, confidente, protetor ou protegido? Não: quem se colocasse ao lado deles bandido seria. E a desculpa “apenas meu conhecido” seria só uma desculpa.
Remédios esquisitos, caros e inúteis, estes sempre houve. Óleo de cobra, por exemplo, ou óleo de cobra elétrica. Servia exclusivamente como fonte de renda do vendedor (que também parecia ser o produtor, misturando óleo de amendoim com algum corante). Fazia mal? Acho que não. Nem bem. Era chamado de “panaceia” – remédio para todos os males. Em faroestes americanos o vendedor de panaceia aparece muito. Aqui o bandido aparece mais. Aliás, caro leitor, que tal um happy-hour com cloroquina on the rocks?
A Porcina e o Porcino
Que vexame, Regina Duarte! Após sua ótima atuação em O Bem Amado, como Viúva Porcina, a que foi sem nunca ter sido, deixou que um novato com a cara impassível de um Buster Keaton sem graça a superasse! Teich foi sem nunca ter sido, assumiu sem ter assumido, um perfeito Viúvo Porcino! Médico bem conceituado, foi tocado do cargo por um capitão que só conhece remédios por comprá-los nas farmácias (e errados, ou não teria ficado desse jeito). Regina, não: desandou a falar igualzinho ao capitão e seus filhos. Após esse episódio, está pronta para a política: pode até ser porta-voz de Dilma.
Ele era o bom
Teich desafiou a sabedoria popular: “Se alguém engana alguém uma vez, a culpa é dele. Se engana outra vez, a culpa é do outro”. Teich viu Mandetta ser vítima de seu sucesso como administrador – e, exatamente por este sucesso, foi chutado. Achou que com ele seria diferente. Mas não parou para pensar no motivo pelo qual seria diferente. Por acaso o Capitão Cloroquina aceitaria outro medicamento que não fosse a cloroquina? E concordaria com o isolamento social, quando tudo que não quer é ficar isolado, e saracoteia pelas ruas no meio de gente aglomerada, trocando suores e perdigotos? Por acaso o Capitão Morte passaria a se importar com os mortos da pandemia, se nem com a segurança de sua filha, uma criança, se importou, levando-a para o meio daqueles grupos de fanáticos que gritam Bolsonaro tem razão?
Previsão
Dizem que no Brasil nem o passado é previsível. Mas Bolsonaro e seus milicianos digitais são previsíveis: as milícias (e seus robôs) vão explicar que Teich é comunista desde antes de Lênin e se infiltrou no governo Bolsonaro apenas para atrapalhar seu até então impecável funcionamento. Bem feito: por que Teich aceitou o desafio impossível de ser ministro de Bolsonaro?
Medicina general
Muita gente preocupada com a possibilidade de efetivação do general Pazuello no Ministério da Saúde. Não deveriam se preocupar. O general, dizem, é bom organizador. Não deve entender nada de Medicina, o que não seria problema se pudesse ouvir o pessoal do Ministério; mas se fizer isso será o próximo a rodar. E qual a diferença? Mandetta e Teich têm boa formação médica, tanto assim que rejeitaram os palpites do leigo cujo sonho seria vestir farda. E daí? Pazuello deve ter uma formação apurada em assuntos militares, mas nada a ver com Medicina, Saúde Pública, contenção de epidemias. Não vai fazer a menor diferença: ou manda o país se abrir à epidemia (isso se os governadores e o Supremo deixarem) e ordena servir cloroquina na merenda escolar, ou cai como caíram seus antecessores.
Bom exemplo
O general George Marshall foi combatente até 1945. Em 1947, o presidente Truman o nomeou secretário de Estado. Marshall criou então o Plano Marshall, que permitiu a reconstrução de 16 países da Europa Ocidental que, após a guerra, estavam em ruínas. Foi tão bom que, no Brasil, quando os generais propuseram a Bolsonaro mais uma versão do PAC de Dilma, deram-lhe o nome de Plano Marshall. Só há um detalhe: Marshall foi um guerreiro que deu certo como secretário de Estado. Foram pouquíssimos.
Prejuízo monstro
O prejuízo da Petrobras no primeiro trimestre de 2020 foi de R$ 48,5 bilhões. Maior que o lucro da Petrobras nos quatro trimestres de 2019.
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