Vejam só. Um exemplo, as traições. Essa semana mesmo soube de um noivado lindo, onde tudo corria bem, mas desfeito. Motivo alegado: traição. O noivo foi descoberto pagando contas no tal OnlyFans, ou seja, traição por imagem. Não foi como em outras épocas em que a gente pegava o flagra bem na real, na cama, pele com pele, andando por aí, falando baixinho ao telefone (fixo) de um cantinho, corando e gaguejando quando perguntávamos com quem era a cuidadosa conversa; o mais perto do virtual que se chegava era achar um bilhetinho esquecido no bolso do casaco com um telefone, uma marca de batom na camisa, o perfuminho de outra, o achado de algum objeto dentro do carro, às vezes deixado ali de propósito pela parte contrária. E, claro, ver a cara de tacho do mentiroso, negando. O advento do celular deu mobilidade. Dá para ligar de qualquer lugar, dizendo que está em outro. Claro, se não estiver rastreado, o que já ocorre bastante nas novas relações, sempre trêmulas, e digamos, perigosas e inconstantes. |
Outra história que abalou a geral essa semana foi a da cantora Iza, linda, grávida, mas vindo a público totalmente abatida e séria em gravação para anunciar o rompimento com o tal Iuri Lima, com quem estava e de quem espera a bebê que se chamará Nala. Motivo: traição. Nossa, que sacana, e foi bem atacado, bastante até para sua inexpressível pessoa, apagado jogador de futebol de segunda divisão – como pôde tal traste ousar trair uma deusa como Iza, como pode, aliás, conquistá-la, tão sem graça? - A dúvida mais comum. Traição, claro, inadmissível, principalmente se tratando de personalidade pública, muito querida, grávida prestes a parir. Mas foi pele com pele o flagra? Não. Foram mensagens trocadas do Iuri com uma ex, e essa ex, tipa daquela linha “tudo por algum sucesso”, resolveu tentar vender a história para um dos maiores fofoqueiros de plantão da imprensa. Teria pedido 30 mil reais pra vazar as conversas. O fofoqueiro, que não é besta nem nada, alertou Iza. E assim todos ganharam milhares de cliques com essa história. |
Não estou discutindo, claro, a traição. Mas o seu novo formato. As pessoas se conhecem por aplicativos ou nas redes sociais, onde o botãozinho curtir e coraçãozinho de “amei” é quase igual a aquela piscadela, e quanto mais aparecem, dizem, marcam interesse. Ali mesmo combinam encontros, se seguem em todas as outras, ficam namorando por WhatsApp e aí vai. Vai que também vejo que stalkeiam, seguem, tudo o que o outro faz, e também quem entra nos seus perfis, o que comenta, quando, onde estava. “Quem é essa aí, papai?” – como gritou Ivete lá do palco, no meio de um show, uma vez que de lá avistou umazinha se aproximando do seu marido. |
Rola que às vezes vira uma obrigação, prova de amor, anunciar no Facebook estarem em um relacionamento sério. Publicam fotos de tudo o que fazem juntos, presentes, viagens, dias especiais, Dia dos Namorados, então, é obrigatório. Marca a posse. Abrem e fecham acesso aos perfis. Rola ciúmes de fotos – decotes, biquinis, sungas, caras e bocas – e brigas por isso e mais aquilo. Rompem. E lá vem o corre-corre para se bloquearem, apagarem todas as fotos, mudar o tal status de relacionamento. O amor virou mesmo um assunto público. E virtual. Mas mesmo assim extremamente perigoso, por incontrolável, quando chega no mundo real. |
Nada me tira da cabeça, inclusive, que o absurdo e visível aumento do número de feminicídios e de violência contra a mulher vem também disso, dessa disseminação de tudo por redes sociais, a necessidade de se mostrar, muitas vezes sobrepondo um relacionamento ao outro. Costumo dizer que o ciúme – e já fui vítima disso, de forma terrível, e antes do advento de tanta tecnologia e formas de contato – é um bicho, estranho, feio, que afeta todos os sentidos de quem o sente, e que torna a quem infecta incapaz de processar o que vê, pensa ou ouve. Faz daquilo que pode não ser nada, um furacão, cria histórias onde elas não existem. Cega. O cérebro constrói e destrói castelos. O que, transferido ao mundo real, com tanta saúde mental abalada como temos visto, transforma-se fácil, fácil, em violência. |
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